Empenas
Na paisagem do centro de São Paulo, há um elemento arquitetônico recorrente chamado empena cega, a fachada lisa e sem aberturas de um edifício. Sua presença está ligada à legislação de uso e ocupação do solo e à construção de grandes estruturas viárias implementadas a partir da década de 60. Em 2007, com a vigência da lei Cidade-Limpa, que proibiu a colocação de anúncios publicitários nas fachadas dos imóveis, esse elemento tornou-se ainda mais evidente.
Este projeto usa o desenho para estudar as empenas cegas presentes nesta paisagem, destacando seus aspectos espaciais, cromáticos e morfológicos. Estes desenhos foram feitos ao longo dos 2,8 kilometros do Elevado João Goulart (antigo Costa e Silva), uma via expressa de carros erguida a cerca de 6 metros do chão, que oferece um ponto de vista inusitado do entorno. Aos sábados e domingos a via é fechada aos carros, dia em que é possível cruzá-la a pé.
Do alto do elevado, as empenas, que em geral se veem numa perspectiva oblíqua desde a calçada, ganham uma vista mais frontal. Empenas muito próximas entre si e perpendiculares ao elevado só são vistas por completo quando estamos ao lado delas. Empenas avistadas a distância crescem lentamente no campo de visão durante o percurso.
Há empenas que parecem alinhadas entre si, mas que se separam à medida que nos aproximamos. Algumas, paralelas ao elevado, parecem estreitas de longe, porque são vistas lateralmente, mas quando nos aproximamos são tão grandes que parecem inclinar-se sobre nós.
Para este projeto, foram feitos desenhos de observação e de levantamento. Os desenhos de levantamento deram origem às silhuetas das empenas, e levam em conta a quantidade de andares, o estado físico da fachada e a orientação em relação ao norte. Cada silhueta é a vista frontal cerca de 400 vezes menor.
Juntas, as 141 silhuetas formam um alfabeto no qual é possível notar variações de tamanho, janelas clandestinas, muretas e beirais, além dos recortes formados por telhados e edifícios que encobrem parte das fachadas. Cada silhueta é apresentada com o endereço e o nome do edifício a que pertence.
Os desenhos de observação são um registro da percepção do espaço sobre o elevado, principalmente das empenas, com a anotação dos seus contornos visíveis, feitos a cada 60 metros. Esses desenhos deram origem às 88 vistas da cidade apresentadas aqui, metade desenhada no sentido Oeste e metade no sentido Leste.
No final de 2013, 30 protótipos das vistas da cidade foram impressos em risografia, em quatro cores especiais (dourado, amarelo, azul e laranja) sobre papel Filtro 180g/m2. Esta edição revisada, ampliada e impressa em ofsete, reúne numa única publicação todas as vistas e silhuetas.
Ganhador do PROAC LIVRO DE ARTISTA – 2013. Participou da X Bienal de Arquitetura de São Paulo e da exposição Cidade Gráfica em novembro de 2014. Se você tiver interesse em obter o livro, por favor me contate por e-mail.
Andrés Sandoval, 1973, artista, trabalha em São Paulo. Desde 2003, desenvolve livros, estampas, murais e exposições. Estudou arquitetura na Universidade de São Paulo e publica seus desenhos pela Cia. das Letras, Todavia, Ubu e na revista Piauí. Desenhou as estampas da Neon e da Irrita e os murais da Fundação Bradesco, em Bodoquena.
Participou da X e XII Bienal de Arquitetura de São Paulo, da exposição Cidade Gráfica, Itaú Cultural e Linhas de Histórias, SESC Santo André, Campinas e Araraquara. Entre seus parceiros de arquitetura e design, Rosenbaum, Grupo SP, PS2 Design, Bloco Gráfico.