O Supermacho

carimbo
São Paulo, Brasil | 2016

Esta série de desenhos foi feita com carimbos da própria coleção do artista, feitos de borracha, tampas plásticas e tipos móveis. A série mostra estrambólicas máquinas futuristas como o famoso dinamômetro de Bois de Bolougne, a quintuplette e a máquina do amor de Alfred Jarry. Tradução, Paulo Leminski, editora Ubu.

Bastidores das ilustrações, entrevista para a editora Ubu:

Nada como conhecer o ateliê para chegar ao artista. O de Andrés Sandoval, no centro de São Paulo, está repleto de histórias. À primeira vista, paredes cheias de fotos de uma viagem que fez recentemente à sua cidade natal para mergulhar em suas origens. Chuquicamata fica no deserto do Atacama, no Chile, e é uma das maiores minas a céu aberto do mundo. A data de nascimento do artista corresponde à do golpe militar no país, ocorrido em 1973. Três anos depois sua família imigrou para o Brasil. Nessa visita ao ateliê descobrimos uma das matérias primas essenciais de seu trabalho: sua coleção de carimbos.

Novos, antigos, pequenos, grandes, presenteados, encomendados, letras, desenhos, símbolos. Andrés conta que os carimbos utilizados para ilustrar O Supermacho foram presente de uma amiga anos atrás. “O processo é esse, alguns carimbos chegam e ficam anos guardados antes de serem usados. Com O Supermacho foi assim; o projeto surgiu e escolhi carimbos que dialogavam com a história.” Enquanto nos mostra sua coleção, Andrés descreve o processo de fabricação de um carimbo.

Os carimbos de borracha que usei no livro são feitos num sistema quente. Quando visitei o ateliê do Vincent Sardon em Paris vi carimbos sendo feitos assim. Acho que ele inventou um jeito próprio de fazer, mas usa procedimentos tradicionais da época do Jarry e usados no Brasil até os anos 60. Há vários trabalhos do Antônio Manuel usando flans e borrachas, vale ler este artigo.

De todo modo, o procedimento que vi é este:

1. A borracha (alto-relevo), látex, é prensada no calor contra uma matriz chamada de flan (baixo-relevo).

2. O flan também é gravado, prensado à quente contra uma matriz que é um fotopolímero (alto-relevo). O flan só fica duro e resistente depois de prensado no calor. É como um cartão escuro misturado com outros produtos.

3. O fotopolímero (alto-relevo), é feito num processo químico de revelação: o que fica exposto à luz fica mole e lavável. O que fica protegido da luz, endurece e vira a matriz. Essa proteção é um fotolito.

4. O fotolito pode ser conseguido de várias formas, usando uma impressora comum e um acetato. Ou um desenho feito diretamente sobre o acetato. O importante é que na parte impressa a luz não passe.

Hoje os carimbos normais são feitos de fotopolímeros. Quanto à durabilidade, diria que a indústria se diversificou e os polímeros usados atendem a uma demanda de mercado: ninguém precisa de carimbos mais do que 5 anos. Depois disso eles começam a ficar moles e pegajosos e é preciso mandar fazer outro. Há ainda duas outras superfícies que influenciam o aspecto final da carimbada: a almofada de tinta e o próprio papel, que pode ser mais ou menos absorvente. O artista prefere usar uma almofada lisa, para não gerar uma nova camada de textura, que poderia brigar com a do próprio carimbo.

Para o projeto da Ubu, ele utilizou como base o papel couché que, por ser encerado, absorve menos a tinta e a fixa no lugar em que é aplicada, garantindo a precisão do desenho. Para ilustrar o livro, Sandoval pesquisou a figura de Alfred Jarry e o universo artístico em torno do escritor – muito admirado por Duchamp, Miró, William Kentridge, entre inúmeros outros. Nessa pesquisa encontrou a imagem do revólver que, embora não esteja diretamente ligada à narrativa, é uma das excentricidades de Jarry – o autor era conhecido por sair munido de uma pistola, que foi adquirida por Picasso após sua morte. A imagem da máquina e a busca pelo ilimitado ocupam papel central no enredo de O Supermacho.

A ideia do carimbo como algo industrial, que permite repetições infinitas, foi um dos elementos que direcionou o trabalho. Assim como no romance de Jarry, o natural e o artificial, o corpo e a máquina, aparecem intimamente ligados nas ilustrações, que têm como matéria-prima carimbos da forma de coração anatômico, lâmpada, flores, boca, letras e números. Fundamental no romance e adorada pelo escritor, a bicicleta não poderia ter ficado de fora.

O artista optou por usar poucos carimbos e explorar ao máximo as potencialidades de cada um, bem como as possibilidades de combinação entre eles. Ele usou máscaras – moldes feitos de papel que permitem usar partes diferentes de cada carimbo – e variou a pressão no momento de aplicar a tinta, criando figuras que reproduzem a inventividade, a irreverência e o quê de ficção científica que caracterizam a obra, profundamente moderna, de Alfred Jarry.

Trabalhos relacionados

A planta do mundo

guache sobre cartão
São Paulo, Brasil | 2021

A planta do mundo

guache sobre cartão
São Paulo, Brasil | 2021

Caramba!

nanquim e colagem
texto e ilustrações
São Paulo, Brasil | 2021

Caramba!

nanquim e colagem
texto e ilustrações
São Paulo, Brasil | 2021

Os Pontos Cardeais Acrobatas

concepção, desenhos
São Paulo, Brasil | 2013

Os Pontos Cardeais Acrobatas

concepção, desenhos
São Paulo, Brasil | 2013

dobras

concepção, desenhos e o projeto do livro
São Paulo, Brasil | 2017

dobras

concepção, desenhos e o projeto do livro
São Paulo, Brasil | 2017

Guia São Paulo

guache e lápis de cor
Portugal | 2018 | Brasil | 2021

Guia São Paulo

guache e lápis de cor
Portugal | 2018 | Brasil | 2021

Megafauna

lápis de cor
São Paulo, Brasil | 2023

Megafauna

lápis de cor
São Paulo, Brasil | 2023

Periferia

carimbo
Londres, Reino Unido | 2018

Periferia

carimbo
Londres, Reino Unido | 2018

O Supermacho

carimbo
São Paulo, Brasil | 2016

O Supermacho

carimbo
São Paulo, Brasil | 2016

Amazonas

guache e nanquim
Brasil, 2003 | França, 2005

Amazonas

guache e nanquim
Brasil, 2003 | França, 2005

Abaty

lápis dermatográfico e nanquim
São Paulo, Brasil | 2022

Abaty

lápis dermatográfico e nanquim
São Paulo, Brasil | 2022

Revista Piauí – esquina

guache, nanquim e lápis de cor
Brasil | desde a primeira edição, 2006

Revista Piauí – esquina

guache, nanquim e lápis de cor
Brasil | desde a primeira edição, 2006

Desenho Livre

lápis dermatográfico
Brasil, 2016 | Portugal, 2017 | França, 2018

Desenho Livre

lápis dermatográfico
Brasil, 2016 | Portugal, 2017 | França, 2018

As Rãs

nanquim
São Paulo, Brasil | 2014

As Rãs

nanquim
São Paulo, Brasil | 2014

New Yorker Spots

nanquim
The New Yorker | Nova Iorque | 2013

New Yorker Spots

nanquim
The New Yorker | Nova Iorque | 2013

Folha de São Paulo

carimbo e colagem
São Paulo, Brasil | 2011-2013

Folha de São Paulo

carimbo e colagem
São Paulo, Brasil | 2011-2013

Siga a seta

guache e lápis de cor
Portugal, 2011 | Brasil, 2012
Itália, 2014 | Chile, 2016

Siga a seta

guache e lápis de cor
Portugal, 2011 | Brasil, 2012
Itália, 2014 | Chile, 2016

Em Nara, Nanquim.

zine e foto
São Paulo, Brasil | 2010

Em Nara, Nanquim.

zine e foto
São Paulo, Brasil | 2010

Vermelho

guache
São Paulo, Brasil | 2009

Vermelho

guache
São Paulo, Brasil | 2009

O Mundo de Cabeça para Baixo

guache e nanquim
São Paulo, Brasil | 2003

O Mundo de Cabeça para Baixo

guache e nanquim
São Paulo, Brasil | 2003

Empenas

X Bienal de Arquitetura de São Paulo, Exposição Cidade Gráfica, São Paulo, Brasil livro e fichas | 2014

Empenas

X Bienal de Arquitetura de São Paulo, Exposição Cidade Gráfica, São Paulo, Brasil livro e fichas | 2014
plugins premium WordPress
Andrés Sandoval, 1973, trabalha em São Paulo. Desde 2003, dedica-se ao desenho. Seu trabalho pode ser visto em livros, estampas, murais e exposições. Estudou arquitetura e publica seus desenhos através de editoras como a Companhia das Letras, Todavia, Ubu e a revista Piauí. Desenhou estampas para tecido da Neon e Irrita e os murais da Fundação Bradesco, em Bodoquena, MT. Participou da X e XII Bienal de Arquitetura de São Paulo, da exposição Cidade Gráfica no Itaú Cultural e Linhas de Histórias, no SESC Santo André, Campinas e Araraquara. Seus cadernos de campo e desenhos de plantas participaram da exposição Pedra Viva, Museu da Escultura e Ecologia – MUBE, São Paulo. Entre seus parceiros de arquitetura e design, Rosenbaum, Grupo SP, PS2 Design, Bloco Gráfico.

Andrés Sandoval, 1973, artista, trabalha em São Paulo. Desde 2003, desenvolve livros, estampas, murais e exposições. Estudou arquitetura na Universidade de São Paulo e publica seus desenhos pela Cia. das Letras, Todavia, Ubu e na revista Piauí. Desenhou as estampas da Neon e da Irrita e os murais da Fundação Bradesco, em Bodoquena.

Participou da X e XII Bienal de Arquitetura de São Paulo, da exposição Cidade Gráfica, Itaú Cultural e Linhas de Histórias, SESC Santo André, Campinas e Araraquara. Entre seus parceiros de arquitetura e design, Rosenbaum, Grupo SP, PS2 Design, Bloco Gráfico.